Entre o Progresso Iminente e o Desafio Estrutural e Humano
Introdução: A Vocação de uma Terra em Conflito (Provérbios 29:18 - "Onde não há visão, o povo perece, mas bem-aventurado é o que guarda a lei.")
Açailândia, no Sudoeste do Maranhão, é uma cidade de contrastes marcantes. Porta de entrada da Amazônia e encruzilhada de grandes projetos de infraestrutura e empresas de porte (notadamente nos setores de metalurgia, produção florestal e logística, com a Ferrovia Norte-Sul e o Entreposto da Vale), a cidade detém o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do Maranhão, com um PIB per capita (R$ 33,7 mil em 2021) superior à média estadual (R$ 17,5 mil), segundo dados do IBGE e do Observatório Setorial Territorial Brasil (Data MPE - Sebrae). Essa pujança econômica, no entanto, convive com profundos desafios sociais e estruturais, criando uma realidade que desafia a vocação de progresso do município.
1. O Descompasso Social e Educacional: A Juventude Despreparada (Oséias 4:6 - "O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento.")
O crescimento econômico desordenado gerou um influxo populacional que a infraestrutura local não conseguiu absorver adequadamente. O crescimento da empregabilidade nos setores de Indústria, Serviços e Comércio (registrando 21,3 mil empregos formais), segundo o Data MPE - Sebrae, revela o potencial de trabalho, mas a mão de obra local frequentemente carece da qualificação necessária.
O desafio educacional é notável. Embora o Maranhão tenha registrado queda na taxa de analfabetismo (a menor em 12 anos em 2022, segundo o Governo do MA), o problema do analfabetismo funcional persiste, limitando a capacidade da juventude de aproveitar as oportunidades geradas pelas grandes empresas. Em 2010, o município apresentava um percentual de apenas 7,28% de pessoas de 18 a 20 anos com Ensino Médio completo (Atlas Brasil/IBGE 2010), um indicador de despreparo alarmante frente à demanda tecnológica do iminente progresso. O baixo nível de escolaridade é um gargalo que, se não for resolvido, continuará a segregar a população local dos melhores postos de trabalho.
2. As Chagas Estruturais: Violência, Vulnerabilidade e Falta de Saneamento (Jeremias 6:14 - "E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.")
A falta de infraestrutura básica e o crescimento desordenado são vetores de graves problemas sociais. A saúde pública é tensionada pela demanda crescente e pela necessidade de melhorias contínuas. A mortalidade infantil em Açailândia, apesar de ter reduzido de 46,53 para 28,03 óbitos por mil nascidos vivos entre 2000 e 2010 (Atlas Brasil/IBGE), ainda reflete a precariedade sanitária e de assistência.
O saneamento básico é um indicador crítico. A baixa cobertura de esgotamento sanitário contribui diretamente para doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado, o que, em 2017, representou 3,80% das internações no Maranhão (Atlas Brasil/IBGE). A mobilidade urbana e rural é dificultada pela ausência de planejamento eficaz.
A criminalidade é uma sombra. Embora o Maranhão tenha registrado redução nas Mortes Violentas Intencionais (MVI) nos últimos anos e seus municípios não estejam entre os 10 mais violentos do país (Anuário Brasileiro de Segurança Pública/2024), a realidade local é desafiadora. A exploração humana no trabalho, tanto em zonas urbanas quanto rurais (com destaque para a extração florestal), a desagregação familiar e o alarmante instituto da fome, expressos diante de todos, aumentam os níveis de desespero humano e vulnerabilidade social. A situação das pessoas com deficiência e de outros grupos vulneráveis exige uma rede de proteção e inclusão mais robusta.
3. A Esfera Política e Ideológica: Gestões Instáveis e Fanatismo (Romanos 13:1 - "Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus.")
Açailândia tem sido marcada por sucessivas gestões públicas instáveis e historicamente atingida por denúncias de corrupção, o que mina a confiança social e impede o desenvolvimento planejado e contínuo. A falta de administradores públicos com visão estratégica e comprometimento ético com o desenvolvimento é um fator de atraso.
A presença de setores da esquerda e seu fanatismo político-ideológico (como em outros lugares) muitas vezes polarizam o debate público, desviando o foco dos problemas estruturais e fomentando a divisão, o que também é um desafio à unidade social necessária para o progresso. A contribuição da esquerda para as causas sociais é notória, mas o extremismo político-ideológico de qualquer espectro dificulta a busca por soluções pragmáticas e consensuais.
4. O Vetor Cristão: Entre a Abundância de Templos e a Pouca Transformação Social (Tiago 2:17 - "Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.")
A cidade se destaca pelo grande número de igrejas evangélicas, além da notável presença da Igreja Católica. Há uma fervorosa manifestação de fé, com contribuições significativas das igrejas no enfrentamento das causas sociais, no fortalecimento da fé, da família e da unidade cristã. No entanto, a visibilidade de melhorias nas condições políticas, morais, existenciais e espirituais da população, proporcional ao número de templos, é limitada. A proliferação de igrejas não tem sido o suficiente para reverter o quadro de desespero humano e baixa eficácia política.
5. Esforços da Gestão Atual e Caminhos para o Futuro (Filipenses 2:4 - "Não atente cada um para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros.")
Embora os dados sobre a atual gestão necessitem de acompanhamento em tempo real, as administrações municipais geralmente focam em programas de Assistência Social (como o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF, e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - SCFV, conforme legislação municipal) e em investimentos em infraestrutura e educação (como a integração ao programa CNH Social do Governo do Estado, para a inclusão social e profissional). Tais esforços, embora válidos, devem ser ampliados para um planejamento de longo prazo que integre o desenvolvimento social e a atração de investimentos.
Caminhos Plausíveis para a Igreja Evangélica como Protagonista de Intervenções
A Igreja Evangélica tem um papel vital para o futuro de Açailândia. Sua capilaridade e força moral a credenciam como protagonista de intervenções humanas e sociais:
Ações Educacionais e Profissionalizantes (2 Timóteo 2:15): Criar e manter centros de alfabetização para adultos e funcional, além de cursos de qualificação técnica voltados às demandas das grandes empresas locais (metalurgia, logística, agronegócio).
Fortalecimento Familiar e Psicoespiritual (Salmo 127:1): Implementar programas de apoio familiar e aconselhamento psicológico e espiritual, enfrentando a desagregação familiar e o desespero humano que se manifestam pela fome e violência.
Unidade Cristã para Intervenção (João 17:21): Promover a cooperação interdenominacional (e com a Igreja Católica) para criar projetos de grande impacto, como bancos de alimentos (enfrentamento da fome), clínicas populares e centros de reabilitação.
Fiscalização Cidadã e Ética Pública (Miqueias 6:8): Atuar na formação de uma consciência política ética e cidadã, incentivando a população a fiscalizar as gestões públicas e a eleger administradores comprometidos, combatendo a corrupção e a instabilidade política.
Principais Campos de Atuação para o Desenvolvimento (Próximos 10 Anos)
Campo de Atuação | Objetivo Estratégico | Atuação Cristã Sugerida |
Educação e Qualificação | Redução do analfabetismo funcional e preparo da juventude para o mercado de trabalho (empresas de grande porte). | Criação de escolas técnicas e polos de EJA (Educação de Jovens e Adultos) de excelência. |
Saneamento Básico e Saúde | Universalização do esgotamento sanitário e melhoria dos indicadores de saúde pública. | Mobilização comunitária e pressão social por investimentos em infraestrutura básica. |
Combate à Vulnerabilidade Social | Enfrentamento da fome, violência e desagregação familiar. | Expansão de bancos de alimentos, centros de apoio familiar e programas de reinserção social e combate à exploração de trabalho. |
Desenvolvimento Político-Cidadão | Formação de lideranças políticas éticas e promoção da fiscalização social. | Escolas de Cidadania Cristã e Fóruns de Ética Pública. |
Infraestrutura e Mobilidade | Planejamento urbano para combater o crescimento desordenado e garantir mobilidade. | Parceria com a sociedade civil para propor planos diretores sustentáveis. |
O futuro de Açailândia reside na capacidade de sua liderança, especialmente a cristã, de transcender o mero assistencialismo e abraçar um papel de protagonismo transformador, unindo fé e obras para traduzir a vocação econômica da cidade em desenvolvimento humano e social.
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