O PRINCÍPIO DAS DORES
A chaga social que aflige o Maranhão, marcada pelo conluio histórico entre a velha oligarquia, o clientelismo político e a corrupção que se estendeu e se adaptou em diversas gestões – inclusive com alianças ao lulopetismo em diferentes momentos e esferas de poder –, clama não apenas por denúncia, mas por uma ação transformadora. A pobreza e a miséria, que teimam em permanecer no estado mais pobre do país, são o resultado direto de um sistema que usou o potencial maranhense (seu vasto litoral, clima favorável, riquezas naturais e localização estratégica) para enriquecer uma minoria, enquanto impedia o desenvolvimento humano da maioria.
A perpetuação do atraso através da sucessão familiar no poder político, a ausência de planejamento estratégico de longo prazo, e a distribuição desigual de recursos, que condenam a Baixada Maranhense e as periferias de São Luís e Imperatriz à fome e à falta de infraestrutura básica, exigem uma resposta à altura. É neste cenário de profunda iniquidade que se insere a Missão Social da Igreja Cristã, apoiada por uma tradição de pensamento protestante engajado.
I. Contribuições Sociais Cristãs: A Fé em Ação
A contribuição social cristã, especialmente a vertente protestante, vai além da assistência caritativa e busca a transformação estrutural da sociedade, baseada em princípios de justiça, dignidade e equidade.
1. A Visão Reformacional da Justiça: Pensadores Engajados
A tradição reformada, cujos expoentes históricos como João Calvino já defendiam o uso responsável da riqueza e a crítica à usura em prol da justiça social, influenciou pensadores contemporâneos que clamam por uma teologia engajada na realidade social.
Rubem Alves (Teólogo e Pastor Presbiteriano): Figura central no protestantismo brasileiro, Rubem Alves criticou a espiritualização excessiva que aliena o crente dos problemas concretos do mundo. Para ele, a fé deve nos levar a atuar na realidade, buscando a libertação e a dignidade humana. Sua teologia é um convite a "ver" a pobreza e a "agir" sobre ela, rejeitando a neutralidade política e social.
John Stott (Teólogo Anglicano): Defendeu a ideia de que o Evangelho tem implicações tanto na evangelização (proclamação) quanto na ação social (demonstração). Stott afirmava que a "justiça é responsabilidade de todos" e que a preocupação com os pobres e a luta contra a injustiça não são opcionais, mas partes integrantes da missão da igreja, que deve buscar uma "justiça maior" – aquela que Cristo ensinou.
Martin Luther King Jr. (Pastor Batista e Ativista): Seu legado no Movimento dos Direitos Civis é um testemunho de que a fé deve ser a força motriz para desafiar estruturas sistêmicas de opressão. Sua famosa citação "Injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em toda parte" ressoa diretamente com a realidade maranhense, exigindo que a Igreja denuncie o sistema oligárquico e corrupto.
2. Possíveis Contribuições Práticas da Igreja no Maranhão:
A Igreja Cristã no Maranhão pode catalisar a mudança através de ações focadas na raiz do problema:
Área de Contribuição | Ação Estratégica (Foco no Maranhão) | Objetivo Social |
Educação e Formação Cívica | Implantação de Cursos Técnicos e Profissionalizantes em áreas de potencial regional (logística portuária, agronegócio sustentável, ecoturismo) e Escolas de Cidadania nas periferias. | Quebrar o ciclo de atraso educacional e profissional, formando uma nova liderança crítica e ética, imune ao clientelismo. |
Desenvolvimento Local | Criação de Cooperativas e Microcrédito Solidário para famílias da Baixada Maranhense e do interior, focadas na cadeia produtiva do babaçu, piscicultura e agricultura familiar. | Articular a riqueza natural do estado com a base da sociedade, gerando renda e autonomia econômica, em contraposição à exploração do trabalho análogo à escravidão. |
Voz Profética e Justiça | Formação de Fóruns de Fiscalização Cidadã e Transparência (junto à sociedade civil) para monitorar orçamentos e políticas públicas de saúde e educação (os mais sucateados) em pequenos municípios. | Denunciar a corrupção e exigir a "justiça pública", desafiando o poder da oligarquia e promovendo a responsabilização política. |
Cuidado com o Vulnerável | Criação de Centros de Apoio Jurídico e Psicológico para mulheres vítimas de violência e famílias de detentos negros e pobres, garantindo o direito de defesa e amparo. | Responder às consequências sociais da iniquidade (violência e encarceramento em massa), demonstrando a compaixão e a misericórdia de Cristo. |
II. Indicadores e Potencialidades das Mesorregiões do Maranhão
O Maranhão, dividido em cinco mesorregiões geográficas, exibe uma diversidade de potenciais que, se não fossem usurpados pelo extrativismo político e econômico de poucos, impulsionariam todo o estado:
III. Um Chamado à Conversão Ética e Social
Em face desta realidade, o chamado bíblico ressoa com urgência, exigindo uma conversão não apenas individual, mas ética e social da Igreja e do povo maranhense:
"Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, ele lhe pagará o seu benefício." (Provérbios 19:17)
A Igreja Evangélica tem a missão de:
Socorrer: Ir ao encontro dos mais vulneráveis, provendo sustento, saúde e educação, como o bom samaritano. O apóstolo Tiago enfatiza: "Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: 'Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos', e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." (Tiago 2:15-17).
Ser Responsabilidade Social e Política: A Igreja precisa ser a voz profética que se levanta contra a injustiça, denunciando a corrupção e o saque, e exigindo que a riqueza do Maranhão seja articulada para o bem de toda a sociedade. Deve promover a formação de cidadãos conscientes e éticos, capazes de discernir e romper com os ciclos de clientelismo e compra de votos.
Investir em Capital Humano: O Maranhão necessita desesperadamente de desenvolvimento educacional, profissional, cultural e técnico. A Igreja deve investir na formação integral da criança e do jovem, capacitando-os para que se tornem a geração que finalmente libertará o estado do jugo da oligarquia e da pobreza, construindo um Maranhão justo, próspero e digno.
CONCLUSÃO PARA UM START CONTEMPORÂNEO
A fé cristã deve ser o catalisador que transforma a indignação em ação. A Igreja não pode apenas aguardar a "melhora" da política. Ela é chamada a ser a mudança, levantando-se como voz e braço que socorre o órfão, a viúva (as famílias abandonadas e as mulheres vítimas de violência) e o oprimido (o cidadão simples explorado), rompendo o ciclo da opressão para que, finalmente, a riqueza e o potencial do Maranhão sejam uma benção e não uma maldição para o seu povo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário