Os
caminhos do coração humanos são indecifráveis...
Você
vê gente sofrendo de tudo, e vivendo como se tudo fosse normal. Você, por outro
lado, vê gente sofrendo de nada como se sofresse de tudo...
Na
realidade, cada vez mais, minha experiência vai mostrando que não há escolas
psicológicas capazes de atender a cada alma humana.
De
fato, cada alma demanda uma psicologia pessoal e particular...
Não
dá pra dizer que Freud explica quase nada...
Freud
explica a si mesmo..., e olhe lá...
Sua
Psicanálise é auto-analise, por mais “cientifico” que ele pretendesse ser,
posto que por mais isento que fosse, a “ciência” que ele praticava só poderia
ser verificada a partir dele mesmo, não apenas de sua interpretação, mas de sua
própria/particular/existencial experiência psicológica.
Há
pessoas que me procuram com crises de contornos “freudianos”. Para tais pessoas
Freud parece funcionar bem... Outras, porém, nada têm a ver com o que o Freud
pressupôs houvesse em todo homem, sem que haja...
Nesses
casos, tateio até ver a “porta de entrada” da pessoa, e, frequentemente,
verifico que tal “entrada” não existe nas matrizes das linhas psicológicas
clássicas ou pedagógicas, e, portanto, demanda uma psicologia singular, tecida
entre você e a pessoa, até que o sistema esteja mais ou menos visível e,
portanto, discernível.
Em
outras palavras: tem que ser como Jesus praticava...
A
“psicologia” de Jesus era simples e se servia das metáforas que as pessoas
traziam ou compreendiam. Tudo, porém, tinha ver com “aquela” pessoa, e não com
uma matriz psicológica universal.
Assim,
com Jesus não há padrões... O padrão é o individuo...
Desse
modo, cada pessoa demanda uma psicologia singular, por mais que os modelos
psicológicos possam ajudar aqui e ali. No entanto, depender exclusivamente
deles é pura tolice...
O
modelo de Paulo, a confrontação, é o que vejo que melhor ajuda as
pessoas, pois, de fato, trata-se de um método não metódico, é que busca
discernir a essência da questão, e trata dela cara a cara, sem medo de afirmar,
de indagar, de sugerir, de provocar, de perturbar mesmo... — até que a verdade
vá aparecendo, e, assim, a pessoa vá se enxergando e tomando as decisões práticas quanto a debelar o vício do sintoma
como mal a ser tratado como causa... sem que o seja.
Os pudores psicológicos atrasam em
demasia a cura das pessoas...
Vejo
pessoas oito, dez, doze anos em um terapeuta, ruminando os mesmos bagaços,
pagando caro para serem ouvidos sem que isto deslinde qualquer coisa em seus
interiores, até que chegue o dia da verdade...
Então,
sem pudor, atendo a tais pessoas; algumas já sabem tudo de tudo, até mais que a
maioria dos psicólogos, de tão profissionais como clientes que vieram a se
tornar...
A
surpresa para elas é que o que durara anos, por vezes em uma, duas, três
semanas, ou em poucos meses, cede...; e, então, começa a abrir o espaço
interior para que, pela via da confrontação, a pessoa comece a parar de chocar
seus quase/dramas; e, assim, sem pena de si mesmo, sem transferências de nada
para ninguém, sem auto-piedade ou auto-comiseração, o individuo comece a
reagir; e, em não muito tempo, comece a ficar perplexo com os resultados...;
sem saber a razão de não ter que ser um processo necessariamente tão longo e
demorado no atingimento dos desejados resultados...
Na realidade o que a maioria das
pessoas necessita é do encaramento na e da verdade!
Noto
o despreparo brutal da maioria dos chamados profissionais de Psicologia. Alguns
nada dizem apenas porque não têm mesmo o que dizer... Outros gostam da
lentidão... Ela é lucrativa... Há ainda os que são tão doentes que fazem
psicologia para se distraírem de si mesmos ouvindo os outros... Mas poucos há
com consciência do que seja a ajuda que as pessoas precisam...
Ora...
isto sem falar naqueles que são pagos apenas para consentirem com o devaneio do individuo...
São
os Psicólogos do “vamos que vamos”...
Sim,
você o paga apenas para que ele diga que você tem razão em soltar todas as
frangas e todos os bichos do seu zoológico particular...
No
meio disso tudo, há alguns profissionais da psicologia que são de fato muito
bons, embora poucos.
O que me ressinto mesmo é do fato que
se houvesse entendimento do Evangelho, e amor e limpidez de propósitos, todo
verdadeiro pastor de almas naturalmente seria um psicólogo.
Mas
quase não há tal coisa... A maioria dos pastores está tão perdida que nem mesmo
dá conta de sua própria alma, quanto mais da dos outros!...
A
receita de cura de Isaías é simples [cap.58]: liberte os oprimidos, quebre
cadeias nos outros, franqueia a vida ao próximo, não fuja dele; e mais que
isto: abra a sua própria alma com o aflito [deslocando o foco do “si-mesmo”
para o outro] — pois, então, se diz: A
tua cura brotará sem detença!...
A melhor terapia desta vida sempre
será o serviço em amor!
Quem
se esquece de si e arranja olhos para a vida, em geral ficará curado enquanto
limpa feridas e cuida de angustias alheias...
Aquele,
porém, que apenas cuida de si mesmo, de suas supostas dores, e concentra-se
exclusivamente em sua angustia como elemento pivotal da existência universal,
esse pode contratar o melhor psicólogo para que lhe ande a tira-colo, pois,
ainda assim, jamais ficará curado...
Ninguém
sabe em que espírito o Samaritano vinha sem seu caminho... Entretanto, pouco
importa se ele vinha cantando, alegre, feliz e grato, ou se vinha sofrendo,
angustiado e infeliz... Sim, o que importa é que ele olhou para o outro, o
outro pior do que ele, o outro sem autodeterminação, caído no caminho... E
mais: fez isso sem que importasse quem ele ou o outro fossem um para o outro...
Sem
que fosse significativo como o Samaritano estivesse se sentindo, o que valeu
foi o ato, foi o feito, foi a parada e o levantar do homem...
Sim,
o importante não era a subjetividade, mas a objetividade da decisão...
Digo
isto hoje porque vejo que muitos dos que me escrevem jamais ficarão curados
enquanto não se esquecerem de si mesmos, e, enquanto não transformarem sua
auto-vitimização em ação pró-ativa em favor da vida...
NELE, que nos cura pela verdade e pela
prática do amor voltado para aquele que vemos..., e que carece de graça e
cuidado,
Caio
28
de maio de 2009
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