SER PASTOR É...
(1Coríntios 4:1, 2; 1Timóteo 3:1)
Pr. Irland Pereira
de Azevedo
Chamado pelo Senhor no dia mesmo de minha conversão aos 15 anos
e meio, mas entregue nas mãos do Eterno aos seis meses de idade, quando desenganado
pelos médicos, fui a Ele dedicado por minha mãe, para “ser como um desses
pregadores que aparecem entre nós” – dizia ela ao referir-se a pregadores
presbiterianos que iam a Bom Destino, município de S. Fidélis, e falavam de
Jesus à nossa gente. Sim, há mais de quatro décadas estou a servir ao Senhor,
com alegria, no Ministério da Palavra. E folgo em dizer aos colegas que, se
Deus costumasse fazer clonagem, e me quisesse clonar mil vezes, gostaria de SER PASTOR mil vezes...
De
certo SER PASTOR é uma infelicidade,
uma empreitada penosa e difícil, uma caminhada de desencantos, para quem não
for realmente vocacionado pelo Senhor.
Chamado,
entretanto, o homem de Deus sente o privilégio de a Ele dedicar o melhor de sua
vida, de ao Seu povo servir, de aos homens comunicar a palavra de salvação, não
obstante as dificuldades e aflições que lhe sobrevêm.
Mas, que é ser pastor? Qual é o quid proprium, a natureza mesma
do ser pastor?
Responde
o Apóstolo das Gentes, colega nosso, que “os homens nos considerem como
ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1Cort. 4:1), e que a
obra do episcopado é excelente (1Tim. 3:1).
Entendo,
meus companheiros no bendito Ministério, que SER PASTOR é estar inserido no plano de Deus para a redenção da humanidade.
Deus não tem outro plano: nem enviar seus anjos, nem dispor de um imenso
amplificador para que Sua própria voz transmita com perfeição, e sem
distorções, Sua palavra de redenção[1]. Seu plano consistiu no envio de homens
- “Houve um homem enviado de Deus cujo nome era João...” (João 1:6).
SER
PASTOR é ser auxiliar de Cristo, a “remar” no barco de Seu Reino, sob suas
ordens; não é ser dono da igreja, nem definidor de seu destino. É, sim, estar
com Cristo, para assisti-lo. E é ser mordomo, administrador responsável dos
mistérios de Deus, Evangelho que por séculos esteve oculto dos homens e que se
manifestou em Cristo.
SER
PASTOR é ser arauto que solene, grave e dignamente anuncia os decretos do
Rei; é ser profeta a falar da parte do Senhor; é ser sacerdote, - por que não?
- a abraçar as aflições e as dores da humanidade e levá-las à presença do Sumo
Sacerdote, Jesus Cristo.
SER PASTOR é ser mestre, a
retirar das despensas de Deus a palavra que instrui, informa, transforma e
orienta para o tempo e a eternidade.
SER PASTOR é ser conselheiro
pronto a ouvir, compreender e ajudar; e amigo que tem a palavra oportuna e
veraz, a mediar o bálsamo divino para corações feridos.
SER PASTOR é ser líder do povo
de Deus, que aparece menos pela autoridade que reivindica, pelo domínio que
pretende exercer, e mais, muito mais, pelo caráter, pela integridade, pelo
exemplo.(1Ped. 5:2, 3).
SER PASTOR não é ser o
“faz-tudo”, o “manda-chuvas”, o “super-astro”[2] a brilhar na ribalta de uma tribuna sagrada
que se transforma em passarela de
exibicionismo e vaidade. Não. É ser “preparador”, “treinador”, “habilitador” do
povo de Deus para que este sirva, edifique a igreja, promova o Reino de Deus no
mundo, cresça enquanto serve, sirva enquanto amadurece e tem por padrão a
excelência da estatura do varão perfeito - Jesus Cristo.
SER PASTOR não é ser
super-homem ou semideus. É ser homem, comum, normal, mas sobrenaturalmente
habilitado para servir ao povo de Deus. É ser homem de verdade e da verdade. É
ter os pés no chão do sofrimento, das necessidades e desafios humanos e a
cabeça no céu das provisões divinas para um mundo carente.
SER PASTOR é ser capaz de no
mesmo dia sorrir e chorar, celebrar a vida e consolar na morte; é ter coração
simples com de uma criança para perdoar, e forte como de um gigante, para a
sucessão muita vez pavorosa, de experiências traumatizantes.
SER PASTOR é viver no tempo, a
edificar para a eternidade; é ser construtor de pontes, pelo mistério e
ministério da Palavra, entre o pecador perdido e o Salvador do mundo; entre
pessoas que se estranham e agridem-se; entre o sem sentido da História e o
sentido que a Palavra revelada aponta; entre as trevas da ignorância espiritual
e a luz do Evangelho da graça; é ser embaixador, a proclamar para os homens de
todos os tempos: “Reconciliai-vos com Deus”, por isso que a ele foi entregue o
ministério e nele foi posta a Palavra da reconciliação.
SER PASTOR é ser um paradoxo
vivo: é ser afligido e estar sempre alegre; é ser pobre e enriquecer a muitos,
e parecer nada possuir, e tudo possuir; é vida que se queima no altar de Deus,
entendendo como ventura maior viver e servir.
O
Pastor dá razão a Tagore quando afirma: “Sonhei que a vida era alegria; acordei
e descobri que viver é servir; servi e descobri que servir é alegria”.
SER PASTOR é participar de uma
obra excelente, bela, que dura, que transcende os limites do espaço e do tempo,
que glorifica a Deus; é, por isso, o mais belo dos ofícios, a mais gloriosa das
missões, o mais compensador dos sacrifícios.
SER PASTOR requer, entretanto,
para que seja experiência venturosa, que o homem de Deus viva no centro da
vontade do Senhor e tenha a dedicação exclusiva do soldado, a disciplina
rigorosa do atleta, a diligência e perseverança do lavrador, a aplicação
diuturna do obreiro a dividir bem a Palavra, a abrir caminhos retos para o
caminhar seguro e firme do povo de Deus sob seu cuidado e liderança.
Sejamos
Pastores assim, conforme o coração de Deus, e como mordomos fiéis da Palavra
eterna.
E a Bíblia diz:
"Estejam
sempre alegres, orem sempre e sejam agradecidos a Deus em todas as ocasiões.
Isso é o que Deus quer de vocês por estarem unidos com Cristo Jesus." (1
Tessalonicenses 5.16-18).
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