sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

A RAZÃO BATIZADA: O LEGADO INTEGRADOR DE C.S. LEWIS

 

Uma análise da vida, do intelecto e da imaginação do maior apologista do século XX

No dia 22 de novembro de 1963, o mundo parou para chorar o assassinato de John F. Kennedy. No entanto, na mesma hora, em uma casa tranquila em Oxford, falecia Clive Staples Lewis. Sua morte passou quase despercebida pelos jornais da época, mas, décadas depois, sua voz ressoa com mais força e clareza do que a de qualquer político daquele século.

C.S. Lewis não foi apenas um escritor; ele foi o homem que conseguiu realizar a difícil tarefa de "batizar a imaginação" sem sacrificar o intelecto. Para o leitor cristão atual, Lewis oferece um modelo vital de como a fé e a razão não são inimigas, mas sim os dois pulmões pelos quais respiramos a verdade.

Este artigo explora a jornada de Lewis, seus pilares apologéticos e a teologia profunda escondida em suas histórias.

1. Infância e o "Golpe" Inicial

Nascido em Belfast (Irlanda do Norte) em 1898, Lewis teve uma infância marcada pela imaginação, mas cedo foi tocada pela tragédia.

  • A Perda: Aos 9 anos, ele perdeu a mãe para o câncer. A morte dela destruiu a segurança do seu mundo infantil e foi o primeiro passo para o seu futuro ateísmo. Ele via o universo como um lugar cruel e sem propósito.

  • A Solidão: Com o pai emocionalmente distante após o luto, Lewis e seu irmão (Warren) se refugiaram nos livros e na criação de mundos imaginários (como o mundo de "Boxen"), plantando as sementes para Nárnia.

2. A Guerra e a Academia

Lewis foi um aluno brilhante, mas sua educação em Oxford foi interrompida pela Primeira Guerra Mundial.

  • Nas Trincheiras: Aos 19 anos, ele lutou na França. A brutalidade da guerra reforçou seu pessimismo. Ele foi ferido em batalha e viu amigos morrerem, o que consolidou seu materialismo: para ele, o sofrimento provava que não existia um Deus bom.

  • Oxford: Após a guerra, ele se tornou professor no Magdalen College, em Oxford. Ele era um especialista brilhante em Literatura Medieval e Renascentista, conhecido por sua memória fotográfica e intelecto afiado.

3. A Grande Virada: De Ateu a "Convertido Relutante"

Este é talvez o ponto mais famoso de sua vida. A conversão de Lewis não foi emocional, mas inteiramente intelectual e gradual.

  • O Dilema: Lewis amava a mitologia (nórdica, grega), mas desprezava a religião. Ele começou a sentir que os mitos lhe traziam uma "alegria" profunda que o materialismo frio não conseguia explicar.

  • A Influência de Tolkien: Ele fez amizade com J.R.R. Tolkien (autor de O Senhor dos Anéis). Tolkien ajudou Lewis a ver que o cristianismo era um "mito que se tornou fato" — uma história verdadeira que satisfazia a imaginação e a razão.

  • A Conversão (1931): Lewis resistiu bravamente. Ele descreveu a si mesmo como "o convertido mais relutante de toda a Inglaterra". Ele se rendeu primeiro à ideia de que Deus existia (teísmo) e, meses depois, aceitou o cristianismo especificamente.

"Eu cedi, e admiti que Deus era Deus, e ajoelhei e orei."C.S. Lewis

4. Os Inklings e a Criação de Nárnia

Lewis fazia parte de um grupo literário informal chamado The Inklings, que se reunia em pubs de Oxford (como o The Eagle and Child) para ler rascunhos de seus livros em voz alta.

  • Foi nesse ambiente, entre cervejas e cachimbos, que Tolkien leu os rascunhos de O Senhor dos Anéis e Lewis leu os primeiros capítulos de As Crônicas de Nárnia.

  • Nárnia (1950-1956): Lewis escreveu Nárnia já na meia-idade. Ele queria traduzir a teologia complexa em imagens que uma criança pudesse entender (como o sacrifício de Aslam substituindo a expiação de Cristo), embora Tolkien, curiosamente, não gostasse muito das alegorias óbvias de Nárnia.

5. O Amor Tardio e a Dor

Durante a maior parte da vida, Lewis foi um solteirão convicto. Mas, já na casa dos 50 anos, sua vida pessoal sofreu uma reviravolta.

  • Joy Davidman: Ele conheceu Joy, uma escritora americana ex-comunista e convertida ao cristianismo, inicialmente por cartas.

  • O Casamento: O que começou como uma amizade intelectual e um casamento civil "técnico" (para que ela pudesse ficar na Inglaterra) transformou-se em um amor profundo.

  • A Tragédia: Pouco depois de perceberem que se amavam, Joy foi diagnosticada com câncer ósseo terminal. Eles tiveram apenas alguns anos de felicidade conjugal. A morte dela devastou Lewis, levando-o a escrever "A Anatomia de uma Dor" (A Grief Observed), um diário cru e honesto onde ele questiona a bondade de Deus em meio ao sofrimento, mas acaba reencontrando sua fé, agora mais madura e testada pelo fogo.

I. O Solo: Da Trincheira ao Tabernáculo

A biografia de Lewis é a história de um homem fugindo de Deus até ser encurralado. Nascido em Belfast (1898), sua infância foi marcada pela tragédia precoce da perda de sua mãe e pelo distanciamento emocional do pai. O jovem Lewis buscou refúgio nos livros e na mitologia nórdica, mas foi a brutalidade das trincheiras da Primeira Guerra Mundial que cimentou seu ateísmo.

Para o jovem soldado ferido na França, o sofrimento do mundo era a prova irrefutável de que, se Deus existisse, Ele não era bom. Lewis retornou a Oxford como um materialista convicto, determinado a viver pela lógica fria.

A virada, no entanto, não veio pelo abandono da razão, mas pelo aprofundamento dela. Influenciado pela leitura de G.K. Chesterton (que lhe mostrou que o cristianismo explicava a história humana melhor que o materialismo) e pela amizade com J.R.R. Tolkien, Lewis enfrentou uma crise. Tolkien o ajudou a ver que o Evangelho era o "Mito Verdadeiro" — a única história onde o Deus que morre e ressuscita (um eco presente em várias mitologias) entrou na História factual e concreta.

Em 1931, Lewis rendeu-se. Ele descreveu a si mesmo como "o convertido mais relutante de toda a Inglaterra". Ele não foi arrastado pela emoção, mas pela implacável lógica de que Deus era um fato inevitável.

II. A Espada Lógica: A Defesa da Fé

Para o estudioso moderno, a contribuição de Lewis para a apologética (a defesa racional da fé) é inestimável porque ele evita o "evangeliquês". Em sua obra seminal, Cristianismo Puro e Simples, ele estabelece fundamentos que desafiam tanto o cético quanto o religioso nominal.

1. A Lei Moral e o Legislador (ou "Lei da Natureza Humana")

Lewis inicia sua argumentação não com a Bíblia, mas com a observação humana. Ele nota que todos os seres humanos, ao discutirem, apelam para um padrão de "Justiça" ou "Jogo Limpo". Se o universo fosse apenas matéria aleatória, não haveria "certo" ou "errado", apenas preferências biológicas. O fato de sentirmos o dever de julgar moralmente (mesmo contra nossos instintos de autopreservação) aponta para uma Lei Moral objetiva. E uma lei pressupõe uma Mente Legisladora por trás do universo.

Este argumento é a base do livro Cristianismo Puro e Simples. Lewis não começa falando de Deus ou da Bíblia; ele começa observando como as pessoas brigam.

O Conceito: Lewis notou que, quando duas pessoas discutem, elas dizem coisas como: "Isso não é justo", "Você prometeu", ou "E se eu fizesse o mesmo com você?".

  • O Ponto-Chave: Essas frases só fazem sentido se ambas as partes acreditarem que existe um padrão de comportamento real e externo a elas. Se não existisse um padrão (o certo e o errado), brigar não faria sentido, assim como não faz sentido brigar porque um gosta de azul e o outro de amarelo.

  • Não é Instinto: Lewis argumenta que a Lei Moral não é apenas um instinto de rebanho (biológico).

    • Exemplo: Se você vê alguém se afogando, você tem dois instintos: um diz "ajude" (instinto de rebanho) e o outro diz "fuja para se salvar" (instinto de autopreservação). Mas existe uma terceira coisa dentro de você que julga: "Você deveria seguir o instinto de ajudar". Essa coisa que julga qual instinto seguir não pode ser, ela mesma, um instinto.

  • Não é Convenção Social: Embora aprendamos regras na escola, a Lei Moral não é apenas invenção humana (como dirigir na mão direita ou esquerda). Nós julgamos que a moralidade de certas culturas (como a Alemanha Nazista) foi pior ou errada. Para dizer que uma moral é melhor que a outra, precisamos de uma régua para medir ambas. Essa régua é a Lei Moral Real.

2. O Argumento do Desejo

Se a Lei Moral apela para a consciência, o Argumento do Desejo apela para o coração e para a "saudade" inexplicável que sentimos.

O Conceito: Lewis observou que os seres humanos nascem com desejos que correspondem a coisas reais.

  • Sentimos fome -> Existe comida.

  • Sentimos cansaço -> Existe sono.

  • Sentimos desejo sexual -> Existe sexo.

O Conflito: Lewis argumenta que existe um desejo específico no ser humano que nada neste mundo consegue satisfazer plenamente. Nós buscamos felicidade no dinheiro, nas viagens, no sucesso profissional, no casamento romântico. Mesmo quando conseguimos tudo isso, ainda sentimos um vazio, uma sensação de que "falta algo", uma nostalgia de um lugar onde nunca estivemos. Lewis chamava isso de Sehnsucht (uma palavra alemã para um anseio profundo e inconsolável).

A Lógica: Se todos os nossos desejos biológicos têm satisfação correspondente, é provável que esse "desejo transcendental" também tenha. Se o mundo natural não pode satisfazê-lo, então o objeto desse desejo não deve ser deste mundo.

"Se eu encontro em mim mesmo um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para um outro mundo." — C.S. Lewis

Um Resumo de Lewis: Esse desejo é a prova de que fomos feitos para Deus e para a eternidade. As coisas boas da Terra (amor, natureza, música) não são a coisa em si, mas apenas reflexos ou "aperitivos" da verdadeira alegria que encontraremos nEle.

2. O Trilema de Lewis

Contra a tendência moderna de reduzir Jesus a um "bom mestre de moral" (como Sócrates ou Buda), Lewis ergue uma barreira lógica intransponível. Jesus fez afirmações que nenhum mero mestre moral faria: perdoou pecados contra terceiros, declarou-se eterno e afirmou que julgaria o mundo. A lógica de Lewis nos deixa apenas três opções:

  • Louco: Ele acreditava ser Deus, mas não era (um lunático).

  • Mentiroso: Ele sabia que não era, mas enganou a todos (um demônio).

  • Senhor: Ele era quem dizia ser. A opção "bom filósofo humano" é a única que a lógica não permite.

1. O Ponto de Partida: As Afirmações de Jesus

Lewis começa lembrando o leitor do que Jesus realmente fez e disse nos Evangelhos. Ele não apenas ensinou a amar o próximo; ele fez afirmações chocantes para um judeu do primeiro século:

  • Ele disse que perdoava pecados (Lewis nota: "Se alguém pisa no seu pé, você o perdoa. Mas o que pensar de alguém que perdoa você por ter pisado no pé de outra pessoa?" Apenas Deus, a parte ofendida em todas as transgressões, poderia fazer isso).

  • Ele afirmou existir antes de Abraão.

  • Ele afirmou que julgaria o mundo no fim dos tempos.

2. A Lógica: As Três Portas

Diante dessas afirmações, Lewis diz que só existem três explicações lógicas para quem Jesus era. Se um homem comum diz essas coisas, ele não pode ser um "grande mestre moral". Ele cai em uma de três categorias:

A. O Louco (Lunático)

Se Jesus não era Deus, mas acreditava genuinamente que era, então ele sofria de uma psicose gravíssima.

  • Ele não seria um mestre sábio; ele seria um desequilibrado, no mesmo nível de alguém que hoje diz ser Napoleão ou uma torrada.

  • A frase famosa de Lewis: "Ele seria um lunático — no mesmo nível do homem que diz ser um ovo cozido."

B. O Mentiroso (Demoníaco)

Se Jesus não era Deus e sabia que não era, mas dizia sê-lo mesmo assim, então ele era um charlatão perverso.

  • Ele enganou seus seguidores, levou-os à morte e ao martírio por uma mentira, e blasfemou contra a fé de seu próprio povo.

  • Nesse caso, ele não é um "bom mestre"; ele é o próprio diabo, cheio de soberba e maldade.

C. O Senhor (Deus)

Se ele não era louco (pois seus ensinamentos eram profundos e lúcidos) e não era mentiroso (pois sua vida foi moralmente impecável e ele morreu por sua causa), a única opção lógica que resta — por mais incrível que pareça — é que Ele estava falando a verdade.

3. O "Xeque-Mate" de Lewis

A genialidade do argumento é que ele retira a opção "segura" do cético moderado.

"Um homem que fosse apenas um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre moral. [...] Você tem de fazer uma escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. [...] Mas não venham com essa conversa mole e paternalista de que ele foi um grande mestre moral. Ele não nos deixou essa opção. Não foi sua intenção deixá-la." — C.S. Lewis, em Cristianismo Puro e Simples

III. O Anseio do Coração: O Argumento do Desejo

Enquanto a Lei Moral fala à mente, o conceito de Sehnsucht (ansiedade ou desejo inconsolável) fala ao coração. Lewis diagnosticou a condição humana como uma busca eterna por satisfação.

Nós comemos e a fome passa; dormimos e o sono passa. Mas temos um desejo existencial — uma saudade de um "lar" que nunca visitamos — que nem o sucesso, nem o dinheiro, nem o casamento romântico conseguem preencher. Para Lewis, isso não é um erro evolutivo, mas uma pista:

"Se eu encontro em mim mesmo um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para um outro mundo."

Este argumento valida a experiência cristã de que a Terra, por mais bela que seja, é apenas um reflexo ou um "aperitivo" da verdadeira Realidade que encontraremos em Deus.

IV. A Imaginação Redimida: Nárnia e a Sub-Criação

A genialidade de Lewis foi perceber que a razão, por si só, é um "órgão da verdade", mas a imaginação é o "órgão do significado". Sob a influência de Tolkien e o conceito de Sub-criação (a ideia de que, ao criarmos histórias de fantasia, imitamos o Criador), Lewis escreveu As Crônicas de Nárnia.

Nárnia não é apenas entretenimento infantil; é teologia em imagens.

  • A Encarnação e Expiação: Através do sacrifício de Aslam, Lewis torna palpável a doutrina da expiação substitutiva, muitas vezes abstrata para o crente moderno. Vemos o custo do pecado e a majestade da graça.

  • A Psicologia do Pecado: Em obras como Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, Lewis usa a sátira para expor a banalidade do mal. Ele nos ensina que o inferno não é construído necessariamente sobre grandes crimes, mas sobre o "declive suave" do orgulho diário, da distração e do ressentimento.

V. O Grande Milagre e a Dor Real

A teologia de Lewis culmina na visão do "Grande Milagre": a Encarnação. Em seu livro Milagres, ele compara Cristo a um mergulhador que desce às profundezas da morte e da matéria, não para violar a natureza, mas para resgatá-la e levá-la de volta à superfície.

Essa fé robusta foi testada pelo fogo. O solteirão acadêmico conheceu o amor tardiamente com Joy Davidman, apenas para perdê-la para o câncer pouco tempo depois. Em A Anatomia de uma Dor, vemos o titã da fé reduzido a um homem gritando no escuro. Mas é nessa honestidade brutal que Lewis oferece seu maior serviço aos que sofrem: ele mostra que a fé não é um escudo contra a dor, mas a certeza de que a dor não é a palavra final. Ele redescobre Deus não como uma ideia, mas como a única Presença real.

Conclusão: Olhando para o Sol

C.S. Lewis não fundou uma igreja nem criou uma nova doutrina. Seu legado é ter limpado as janelas através das quais vemos a antiga fé. Ele uniu o rigor de Chesterton com a imaginação de Tolkien, oferecendo ao cristão moderno uma fé integral.

Ele nos convida a não deixar o cérebro na porta da igreja, nem o coração na porta da universidade. Sua vida resume-se na frase que ele proferiu ao Clube Socrático de Oxford, que serve como lema para todo cristão que busca a verdade:

"Eu acredito no Cristianismo como acredito que o sol nasceu: não apenas porque o vejo, mas porque por meio dele vejo tudo o mais."

Para o leitor de hoje, Lewis aponta que Cristo é a luz que ilumina a biologia, a arte, a moral e a própria existência. Sem Ele, estamos no escuro; com Ele, tudo o mais ganha sentido.

Principais Legados

Categoria

Obras Principais

O que é?

Ficção

As Crônicas de Nárnia, Trilogia Cósmica

Fantasia com profundos temas morais e espirituais.

Apologética

Cristianismo Puro e Simples

Defesa lógica da fé cristã (originalmente palestras na rádio BBC).

Sátira

Cartas de um Diabo a seu Aprendiz

Um demônio sênior ensina um novato a tentar um humano.

Autobiografia

Surpreendido pela Alegria

O relato de sua conversão.

 












quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

ENTRE A TRADIÇÃO E A MISSÃO: O DILEMA DA CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA

 

A
Convenção Batista Brasileira (CBB) representa uma das maiores e mais históricas denominações protestantes do país. No entanto, analistas religiosos, teólogos e membros da própria denominação têm apontado um paradoxo crescente: o choque entre uma estrutura dogmática e institucional cada vez mais rígida (o que alguns chamam de "fossilização") e a necessidade de fluidez exigida por sua própria identidade histórica, que é essencialmente missionária e expansiva.

A Convenção Batista Brasileira (CBB) tem um forte foco missionário, operando através de suas agências: a Junta de Missões Mundiais (para o exterior) e a Junta de Missões Nacionais (no Brasil), com o objetivo de cooperar com as igrejas locais para cumprir a Grande Comissão de fazer discípulos em todos os povos, mobilizando recursos, vocações e ações evangelísticas como o evento Proclamai e campanhas temáticas anuais.

Princípios:
  • Cooperação: A unidade e cooperação entre igrejas, pastores e líderes é a principal estratégia para o avanço da missão.
  • Senhorio de Cristo: Os valores e crenças da CBB são centrados no Senhorio de Cristo, influenciando as decisões e atitudes. 
Em suma, a CBB é uma grande rede de igrejas batistas que, de forma cooperativa e organizada, trabalha para levar o Evangelho e o discipulado a todas as nações, com estruturas dedicadas ao Brasil e ao mundo.
 

Abaixo, exploramos os dois lados dessa moeda e os pontos de fricção resultantes.

1. O Legado: Uma História Missionária Pujante

Para entender o contraste, é preciso reconhecer a magnitude da obra missionária batista. A CBB não foi construída apenas sobre livros de teologia, mas sobre a ação prática.

  • Vanguarda Global: Através da Junta de Missões Mundiais (JMM) e da Junta de Missões Nacionais (JMN), os batistas brasileiros tornaram-se uma referência no envio de missionários, muitas vezes superando nações com tradição protestante mais antiga.

  • Capilaridade: A história da CBB é marcada pela capacidade de adaptação geográfica, plantando igrejas desde os grandes centros urbanos até comunidades ribeirinhas na Amazônia e no sertão nordestino.

  • Ação Social: Historicamente, a missão batista sempre caminhou de mãos dadas com a educação e a ação social (escolas, orfanatos, recuperação de dependentes químicos), demonstrando uma fé prática e viva.

2. O Diagnóstico da "Fossilização"

O termo "fossilização", utilizado por críticos internos e observadores externos, não se refere necessariamente à fidelidade bíblica, mas ao endurecimento de formas, costumes e burocracias que passam a ser tratados com o mesmo peso de doutrinas fundamentais.

A. A Institucionalização da Fé

À medida que a denominação cresceu, a estrutura administrativa necessária para geri-la também se expandiu. O risco apontado é o burocratismo eclesiástico, onde a manutenção da "máquina" (cargos, política interna, relatórios e propriedades) consome mais energia e recursos do que a própria atividade fim (a missão).

B. Dogmatismo x Doutrina Essencial

Há uma distinção crucial na teologia cristã entre Dogma Central (ex: divindade de Cristo, salvação pela graça) e Usos e Costumes (estilos de culto, liturgia, vestimentas, interpretações escatológicas secundárias). A crítica de fossilização sugere que a CBB, em alguns momentos, elevou questões secundárias ao status de primárias. Isso cria um ambiente de:

  • Resistência ao Novo: Dificuldade em dialogar com a cultura contemporânea e com as novas gerações.

  • Legalismo: Uma ênfase excessiva em regras de conduta comportamental em detrimento da graça e do acolhimento, o que pode afastar o público que a missão visa alcançar.

3. O Ponto de Fricção: Onde os Dois Mundos Colidem

O problema central não é a existência de dogmas (que dão identidade à fé), mas a rigidez que impede a contextualização.

O Paradoxo: Uma igreja excessivamente focada na preservação imutável de suas formas do século XX pode se tornar irrelevante para a missão do século XXI.

O Impacto na Missão

Quando a "fossilização" ocorre, o missionário ou o pastor local encontra barreiras:

  1. Linguagem: A igreja fala uma linguagem interna ("evangeliquês") que a sociedade não compreende.

  2. Forma vs. Conteúdo: Gasta-se tempo debatendo se é permitido usar bateria no culto ou se a liturgia deve seguir o modelo de 1950, enquanto o campo missionário exige respostas para problemas modernos como depressão, ética digital e justiça social.

  3. Êxodo da Juventude: As novas gerações, que tendem a valorizar a autenticidade e a causa (missão) acima da instituição, podem sentir-se desconectadas de um ambiente percebido como engessado.

4. Síntese: Em Busca do Equilíbrio

A análise imparcial indica que a CBB se encontra em uma encruzilhada histórica.

  • O Argumento Conservador: Defende que a rigidez é necessária para proteger a igreja do liberalismo teológico e da perda de identidade bíblica, garantindo que a mensagem missionária não seja diluída.

  • O Argumento Reformador: Defende que a mensagem (o Evangelho) é imutável, mas o método deve ser fluido. Para eles, honrar a história missionária da CBB significa ter a coragem de mudar as estruturas para continuar alcançando pessoas.

Resumo

O desafio da Convenção Batista Brasileira é discernir o que é pedra angular (inagociável) e o que é fóssil (estrutura morta de uma era passada). Se a instituição conseguir flexibilizar seus métodos sem perder sua essência teológica, poderá destravar novamente o dinamismo de sua história missionária. Caso a estrutura sufoque a missão, o risco é tornar-se um monumento histórico respeitável, mas com pouca vitalidade orgânica no presente.

1. O Dilema Estrutural: Democracia vs. Agilidade

A grande diferença da CBB para outras denominações está no seu modelo de governo. Enquanto a maioria das igrejas que crescem explosivamente hoje (neopentecostais) operam como "lanchas rápidas", a CBB opera como um "transatlântico".

Característica

Modelo Batista (Congregacional)

Modelo Episcopal/Centralizado (Ex: Assembleia de Deus, Universal, Videira)

Impacto na "Fossilização"

Tomada de Decisão

Democrática: A decisão vem da assembleia de membros. Tudo (orçamento, compra de equipamentos, projetos) precisa ser votado.

Top-Down (De cima para baixo): O Bispo ou Pastor Presidente decide e a igreja executa.

O modelo batista é mais lento. Para mudar uma estratégia missionária, leva-se meses de reuniões. No modelo centralizado, muda-se na semana seguinte.

Autonomia

Total: A igreja local não deve obediência hierárquica à Convenção. A CBB não "manda", ela "coopera".

Hierárquica: A igreja local deve obediência à matriz ou ao Bispo regional.

A CBB sofre para criar movimentos unificados. Ela depende do "convencimento", não da ordem. Isso gera muita política interna e pouco movimento prático.

Liderança

Pastores Eleitos: O pastor é funcionário da igreja, podendo ser demitido pela assembleia.

Pastores Nomeados: O pastor é autoridade espiritual enviada pela liderança maior.

O pastor batista gasta muita energia na manutenção política de seu cargo para agradar a congregação, sobrando menos tempo para a missão externa.


Um dos maiores pontos de tensão reside no financiamento da missão.

  • A Teoria: O "Plano Cooperativo" é o sistema onde a igreja local envia voluntariamente uma porcentagem (geralmente 10%) de suas receitas para sustentar a CBB e as juntas missionárias.

  • A Prática (O Gargalo): Como a igreja local é autônoma e muitas vezes enfrenta crises financeiras, a primeira coisa que se corta é o envio para a Convenção.

  • Consequência: A estrutura da CBB (escritórios, funcionários, executivos) consome uma fatia grande do bolo. Muitos pastores locais jovens questionam: "Por que enviar 10% para sustentar uma burocracia no Rio de Janeiro se posso aplicar esse dinheiro diretamente em missões no meu bairro?". Isso gera um enfraquecimento institucional da CBB, que reage tentando "cobrar fidelidade", o que soa como legalismo.

3. A Crise da Sucessão Pastoral

Este é um ponto crítico onde a estrutura "fossilizada" fere a igreja local.

  • Outras Denominações: Quando um pastor sai, o Bispo nomeia outro imediatamente. A igreja não fica acéfala.

  • Na CBB: Quando um pastor sai, a igreja entra em um longo e desgastante processo de "sucessão pastoral". Formam-se comissões, analisam-se currículos, votam-se nomes.

    • O Problema: Igrejas podem ficar anos sem pastor, sendo cuidadas por interinos ou líderes leigos. Durante esse tempo, a visão missionária morre, a igreja encolhe e se volta para disputas internas de poder. A burocracia do processo democrático, muitas vezes, mata o momentum do crescimento.

4. O Choque Cultural: "Usos e Costumes" como Dogma

A "fossilização" é mais visível na liturgia. Enquanto o mundo mudou drasticamente a forma de se comunicar (internet, informalidade, agilidade), muitas igrejas da CBB mantiveram a estética dos anos 1970/80 como se fosse doutrina.

  • O Jovem Pastor: Tenta inovar (mudar o horário do culto, usar linguagem menos arcaica, tirar o terno no púlpito).

  • O "Conselho" Tradicional: Frequentemente, líderes leigos mais antigos (diáconos) detêm o poder de veto e interpretam essas mudanças estéticas como "desvio teológico".

  • Resultado: O pastor inovador se frustra e sai (ou vai para uma igreja independente), e a igreja CBB continua envelhecendo, fiel às suas tradições, mas cada vez mais irrelevante para o bairro ao redor.

Síntese: O Peso da História

A CBB é vítima de seu próprio sucesso passado. Ela construiu estruturas tão sólidas (seminários, juntas, associações) que agora gasta mais energia mantendo as estruturas do que fazendo o que as estruturas foram criadas para fazer.

1. O Novo "Muro de Berlim": Calvinistas vs. Arminianos

Para o observador externo, pode parecer um debate técnico irrelevante, mas internamente, isso define quem sobe no púlpito, quem dá aula no seminário e para onde vai o dinheiro de missões.

O Cenário

  • O Grupo "Tradicional" (Majoritário/Arminiano de fato): A maioria das igrejas da CBB opera num "arminianismo prático". Acreditam no livre-arbítrio: "Deus ama a todos, Jesus morreu por todos, e cabe a você decidir aceitá-lo". Este grupo foca no evangelismo de massa: "Aceite Jesus hoje!".

  • O Grupo "Reformado" (Crescente/Calvinista): Impulsionado pela internet e por pregadores jovens (o fenômeno do "Novo Calvinismo"), este grupo resgata as raízes históricas dos batistas (que eram calvinistas no séc. XVII). Acreditam na Eleição Incondicional: "Deus escolheu os seus antes da fundação do mundo; o homem está morto e não pode escolher Deus a menos que seja eleito".

O Impacto na "Fossilização"

Este debate tem paralisado a CBB de uma forma sutil e intelectualizada:

  1. Guerra de Bastidores: Em vez de discutir estratégias para alcançar as cidades, as assembleias convencionais e reuniões de pastores gastam horas debatendo se o material da Escola Bíblica é "reformado demais" ou "humanista demais".

  2. Suspeita Mútua:

    • O Calvinista olha para a junta de missões e pergunta: "Estamos pregando o evangelho puro ou um evangelho antropocêntrico (focado no homem)?"

    • O Arminiano olha para o pastor calvinista e pensa: "Se ele crê que Deus já escolheu quem vai ser salvo, por que ele vai se esforçar para fazer missões? Essa teologia mata a evangelização!"

  3. A "Bolha" Teológica: Jovens seminaristas saem das faculdades teológicas batistas super-preparados para refutar hereges do século XVI, mas despreparados para lidar com um dependente químico ou com a ansiedade da geração Z. A teologia virou um fim em si mesma, fossilizando a prática pastoral.

2. O Futuro: 3 Cenários Possíveis para a CBB

Considerando a tensão atual (Estrutura Fossilizada + Conflito Teológico), analistas eclesiásticos vislumbram três caminhos para os próximos 10-20 anos.

Cenário A: A Ruptura Silenciosa (O Caminho da CBN 2.0)

Neste cenário, não há uma briga pública explosiva, mas um divórcio gradual.

  • O que acontece: O grupo Reformado/Calvinista, sentindo-se boicotado pela estrutura política da CBB (que tende a ser dominada pelos tradicionais), começa a formar sua própria "rede".

  • Sinais atuais: Já existem movimentos como a "Convenção Batista Reformada" ou redes de igrejas (como a Coalizão pelo Evangelho) que funcionam como "denaminações dentro da denominação".

  • Resultado: A CBB fica com o "casco" (o nome histórico, os prédios, a burocracia), mas perde a vitalidade teológica da juventude, que migra para essas novas redes. A CBB se torna um clube de igrejas antigas.

Cenário B: A Irrelevância Institucional (O Caminho do "Mainline" Europeu)

Neste cenário, a CBB insiste na manutenção da estrutura pesada e na briga interna, ignorando a realidade externa.

  • O que acontece: As igrejas locais param de enviar dinheiro (Plano Cooperativo) porque não veem retorno. A sede da Convenção fica sem recursos para manter missionários.

  • Resultado: A CBB se torna uma "agência de certificação" (apenas emite carteirinha de pastor), sem poder real de fomentar missões. As igrejas locais viram "ilhas", cada uma fazendo o que quer, e a identidade batista nacional se dissolve. A "pujante história missionária" vira apenas peça de museu.

Cenário C: A Reforma Missionária (O Caminho da Unidade na Diversidade)

Este é o cenário mais difícil, mas o único capaz de reverter a fossilização.

  • O que acontece: A liderança da CBB admite que a estrutura atual é insustentável e propõe um "Armistício Teológico".

  • A Estratégia:

    1. Foco no Essencial: Define-se que tanto Calvinistas quanto Arminianos são batistas legítimos (como prevê a Declaração Doutrinária, que é ambígua de propósito).

    2. Desburocratização: A CBB reduz drasticamente sua máquina administrativa para liberar recursos para a ponta (missões).

    3. Missão como Cimento: A única coisa capaz de unir um calvinista e um arminiano é o trabalho prático. Colocam-se ambos para plantar igrejas juntos. No "front de batalha", a teologia sistemática importa menos que o amor às almas.

Resumo Final: O Problema é o Foco

O grande drama da Convenção Batista Brasileira não é ter problemas teológicos — todas as igrejas têm. O problema é que, diante de sua pujante história missionária, a CBB parece ter trocado o telescópio (olhar para longe, para os campos brancos de missões) pelo microscópio (olhar para dentro, analisando as falhas uns dos outros).

A fossilização só será quebrada se a dor de ver o mundo perdido voltar a ser maior do que o prazer de ganhar um debate teológico na assembleia convencional.

1. A Vacina da Ortopraxia: "Menos Assembleia, Mais Rua"

O maior sintoma de fossilização é quando a igreja gasta 80% do tempo discutindo questões internas (reformas, orçamento, disputas teológicas) e apenas 20% servindo a comunidade.

  • A Ação Prática: Instituir a regra do "Evangelho Tangível".

  • Como fazer:

    • Não terceirize a missão apenas enviando ofertas para a Junta de Missões (JMM/JMN). Isso é importante, mas acomoda a igreja local.

    • Crie um projeto social ou evangelístico local que exija a participação de braços, não apenas de bolsos.

    • O "Pulo do Gato": Coloque grupos teologicamente divergentes (ex: calvinistas e arminianos, jovens e idosos) para trabalharem juntos nesse projeto (distribuição de alimentos, apoio escolar, capelania hospitalar).

  • Por que funciona: O trabalho prático (ortopraxia) cura a arrogância teológica. É difícil debater a "eleição incondicional" de forma agressiva enquanto se está servindo sopa para um morador de rua ao lado de um irmão que pensa diferente. A missão une o que a teologia divide.

2. A Democracia Ágil: Desburocratizar a Gestão

O modelo batista de "decidir tudo em assembleia" pode ser uma âncora que impede o barco de andar. A igreja não precisa deixar de ser democrática, mas precisa deixar de ser lenta.

  • A Ação Prática: Mudar o foco das Assembleias de "Microgerenciamento" para "Macrovisão".

  • Como fazer:

    • A igreja deve votar apenas o Orçamento Anual Global e a Visão/Metas do Ano.

    • Uma vez aprovado o orçamento, dê autonomia aos líderes de ministério para gastarem a verba aprovada e executarem os projetos sem precisar pedir nova permissão para cada compra de lâmpada ou evento.

    • Substitua as longas assembleias mensais burocráticas por assembleias trimestrais de celebração e prestação de contas.

  • Por que funciona: Isso empodera a liderança, dá agilidade à missão e evita que as reuniões de negócios se tornem campos de batalha política por ninharias. A igreja passa a confiar nas pessoas que elegeu.

3. O Laboratório de Futuro: Distinguir "Doutrina" de "Cultura"

A fossilização ocorre quando a igreja confunde "o que cremos" (Doutrina, imutável) com "como fazemos" (Cultura, mutável).

  • A Ação Prática: Criar um Culto ou Ministério Laboratório liderado pela nova geração, com "Licença para Errar".

  • Como fazer:

    • Dê espaço real para a juventude liderar uma frente de trabalho ou um culto com linguagem, estética e música totalmente adaptadas ao século XXI.

    • A liderança sênior (pastor/diáconos) atua como mentores, garantindo a fidelidade bíblica (o conteúdo), mas não interferindo na estética ou metodologia (a forma).

    • Evite o "Veto do Gosto Pessoal": Se a teologia está correta, mas o estilo musical ou a roupa desagradam os mais velhos, o projeto deve continuar.

  • Por que funciona: Isso impede o êxodo da juventude. Em vez de saírem para fundar uma igreja independente, eles renovam a igreja batista por dentro, trazendo oxigênio novo e impedindo que a instituição vire um museu.

Resumo do Plano de Ação

ProblemaSolução PropostaMeta
Disputas Teológicas InternasFoco em Serviço LocalUnidade através do trabalho.
Lentidão nas DecisõesAutonomia MinisterialAgilidade na missão.
Envelhecimento/IrrelevânciaLaboratório de InovaçãoConexão com novas gerações.

Se uma igreja batista conseguir implementar esses três pontos, ela honra sua história missionária não olhando para o passado com saudade, mas construindo o futuro com coragem.

Esta é uma etapa crucial. Apresentar mudanças em um Conselho Batista requer tato político e sensibilidade espiritual. Se você chegar acusando a igreja de estar "fossilizada", a reação natural será a defesa e o fechamento.

A estratégia aqui é validar o passado para liberar o futuro. O argumento não é "estamos velhos", mas sim "precisamos destravar nossa agilidade para honrar nossa missão".

Abaixo, apresento um esboço de pauta (ordem do dia) para uma reunião de liderança, com dicas de como conduzir cada ponto diplomaticamente.

Pauta de Reunião de Liderança/Conselho

Tema: Honrando o Legado, Construindo o Futuro: Alinhamento Estratégico para a Missão Objetivo: Ajustar processos internos para garantir que a estrutura da igreja sirva à missão, e não o contrário.

1. Abertura Devocional: "Servindo à Nossa Geração"

  • Texto Sugerido: Atos 13:36 ("Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu...")

  • O Ponto Chave: Davi foi relevante para o seu tempo. A pergunta para o conselho é: "Nossa estrutura atual serve à geração de 2025 ou ainda está otimizada para a geração de 1980?"

  • Oração: Pedir sabedoria para distinguir entre Princípios Eternos (que não mudam) e Métodos Temporais (que precisam mudar).

2. Diagnóstico: A Análise de Energia (O "Espelho")

Não use a palavra "fossilização". Use "Gargalos Operacionais".

  • Apresentação de Dados (Estimativa):

    • "Irmãos, fiz uma análise informal do nosso tempo. Hoje, gastamos cerca de X% das nossas reuniões discutindo manutenção (prédio, regras, problemas internos) e apenas Y% discutindo como alcançar o bairro."

  • A Pergunta Reflexiva:

    • "Nossa estrutura democrática é nosso orgulho, mas será que o excesso de burocracia está tornando nossa obediência à Grande Comissão lenta demais?"

  • Dica Diplomática: Diga que a culpa não é de ninguém, mas do crescimento natural da instituição que precisa ser podada para frutificar.

3. Propostas Práticas (As 3 Vacinas)

A. Proposta de "Otimização Administrativa" (Agilidade)

  • O Problema: "Hoje, nossos líderes de ministério têm pouca autonomia, o que trava o trabalho e sobrecarrega as assembleias."

  • A Solução Sugerida:

    • Aprovar um Orçamento Global Anual.

    • Dar Autonomia de Execução aos líderes eleitos (dentro do orçamento aprovado), sem necessidade de novas votações para gastos operacionais.

    • Transformar as reuniões mensais de negócios em Bimestrais ou Trimestrais, focadas em relatórios de vitórias e não em microgerenciamento.

B. Proposta de "Unidade na Missão" (Foco)

  • O Problema: "Temos percebido debates teológicos (ex: calvinismo vs. arminianismo) que geram calor, mas pouca luz."

  • A Solução Sugerida:

    • Criação de um Projeto de Impacto Local Anual.

    • Regra de Ouro: "Neste projeto, nossa teologia sistemática fica na sala de aula; na rua, nossa teologia é o amor prático."

    • Sugerir um alvo neutro e urgente (ex: adotar uma escola pública carente ou um projeto de combate à fome no bairro).

C. Proposta de "Laboratório de Novas Gerações" (Renovação)

  • O Problema: "Temos dificuldade em reter os jovens adultos e conectar com a linguagem de fora."

  • A Solução Sugerida:

    • Criação de um GT (Grupo de Trabalho) de Inovação.

    • Permitir um culto ou ambiente "Laboratório" onde a estética e a liturgia sejam flexíveis, supervisionadas doutrinariamente pelo pastor, mas lideradas esteticamente pelos jovens.

    • Argumento: "É melhor eles inovarem aqui dentro, sob nossa cobertura e amor, do que saírem para buscar relevância lá fora."

4. Momento de "Disclaimer" (Segurança Doutrinária)

Este é o momento mais importante para acalmar os conservadores.

  • Afirmação Clara: "Quero deixar registrado em ata que nenhuma dessas propostas toca em nossa Declaração de Fé ou em nossos Princípios Batistas. Continuamos crendo na Bíblia, na autonomia local e no batismo por imersão. Estamos mudando a embalagem para que o conteúdo chegue a mais pessoas."

5. Encaminhamentos e Encerramento

  • Não peça uma votação imediata sobre tudo (isso assusta).

  • Proposta de Encaminhamento: "Sugiro que criemos uma pequena comissão para estudar a viabilidade dessas 3 propostas e trazer um parecer em 30 dias."

  • Isso dá tempo para a ideia "marinar" na cabeça dos líderes sem forçar um confronto imediato.

Dicas de Oratória para Você

  1. Use o "Nós", nunca o "Vocês": Digas "Nós precisamos ser mais ágeis", não "Vocês são muito lentos". Inclua-se no problema.

  2. Cite os Pioneiros: Se a igreja tem fundadores históricos, cite-os. "Se o Pastor [Fundador] estivesse aqui hoje, com o ardor missionário que tinha, ele usaria as ferramentas de hoje. Honrar a memória dele é ter a mesma coragem de inovar que ele teve há 50 anos."

  3. Valide o Medo: Se alguém disser "Isso parece mundanismo", responda: "Eu entendo sua preocupação, irmão, e ela é legítima. Nossa prioridade zero é a santidade. Mas precisamos diferenciar santidade de tradicionalismo cultural."

1. A Igreja Pequena (Até 100-150 membros)

O Diagnóstico: O problema aqui não é burocracia corporativa, é o Personalismo e o Tradicionalismo Familiar. Geralmente, 2 ou 3 famílias fundadoras detêm o poder de veto informal ("donos da igreja").

  • O Sintoma: "Sempre fizemos assim." Mudanças são sentidas como ofensas pessoais à memória dos fundadores.

A Adaptação do Plano:

  • A Abordagem: Não use termos empresariais ("gestão", "eficiência"). Use termos Relacionais e de Legado.

  • Ação Prática (Otimização): Em vez de tentar mudar o Estatuto (o que gera guerra), proponha "Experiências Temporárias".

    • Exemplo: "Vamos tentar esse novo horário/formato por 3 meses como um teste missionário? Se não der certo, voltamos ao antigo." (Isso remove o medo da mudança permanente).

  • Ação Prática (Missão): O foco deve ser "Família cuidando de Família". O projeto social deve ser algo que una as gerações (avós cozinhando, netos entregando as marmitas).

  • Como passar no Conselho: A reunião não deve ser formal e fria. Deve ser um café na casa de um líder influente. Ganhe o coração do "patriarca/matriarca" da igreja antes da reunião oficial.

2. A Igreja Média (150 a 500 membros)

O Diagnóstico: Esta é a fase mais perigosa. A igreja é grande demais para ser familiar, mas pequena demais para ter estrutura profissional completa. Ela sofre da Síndrome da Mini-Convenção: cria excesso de comissões e regras para tentar organizar o crescimento, travando tudo.

  • O Sintoma: O Pastor está sobrecarregado (centraliza tudo) e as assembleias duram 3 horas discutindo a cor da cortina.

A Adaptação do Plano:

  • A Abordagem: O foco aqui é Descentralização e Confiança. É preciso profissionalizar os processos sem perder a alma.

  • Ação Prática (Otimização): Implemente o Orçamento por Centro de Custo.

    • Cada ministério (Jovens, Kids, Missões) ganha uma verba anual. O líder do ministério presta contas trimestralmente, mas não pede permissão para cada gasto. Isso "limpa" a pauta das assembleias.

  • Ação Prática (Missão): A igreja média tem braço para parcerias. Associe-se a ONGs sérias do bairro. A igreja entra com voluntários, a ONG com o know-how. Isso evita que a igreja tente "inventar a roda" e falhe na execução.

  • Como passar no Conselho: Apresente gráficos. Mostre quanto tempo se perde em burocracia versus tempo investido em pessoas. O argumento é a Eficiência do Reino.

3. A Igreja Grande (Acima de 500 membros)

O Diagnóstico: O problema é o Corporativismo e a Política Interna. Existem "silos" (departamentos que não conversam entre si) e grupos de poder teológico ou político bem definidos. A inércia é enorme; virar o transatlântico demora.

  • O Sintoma: A igreja tem dinheiro e estrutura, mas perdeu a conexão com a realidade da rua. Torna-se um "Clube Gospel" com excelentes serviços internos para os membros.

A Adaptação do Plano:

  • A Abordagem: O foco é Intraempreendedorismo (criar startups dentro da empresa).

  • Ação Prática (Otimização): Crie "Lanchas Rápidas".

    • Não tente mudar o "Culto Principal" de domingo de manhã (onde estão os tradicionalistas e os maiores dizimistas) de uma vez. Crie cultos paralelos ou "campus" em outros bairros com total liberdade de formato.

  • Ação Prática (Missão): Use o poder financeiro para financiar missionários ou plantadores de igreja que sejam autônomos. A igreja grande deve agir como uma "Investidora Anjo" do Reino, enviando recursos para frentes ágeis sem exigir que elas repliquem a burocracia da igreja-mãe.

  • Como passar no Conselho: O argumento é a Sobrevivência Institucional. "Se não criarmos espaço para a inovação (os laboratórios), nossos jovens vão sair para a Church da esquina. Precisamos inovar para manter nosso legado vivo."


Resumo Comparativo da Estratégia

TamanhoO Maior InimigoA Chave da MudançaOnde focar a conversa
PequenaTradicionalismo / "Donos"Relacionamento"Honrar nossa história fazendo dar certo hoje."
MédiaCentralização / BurocraciaProcessos Ágeis"Parar de microgerenciar para crescer."
GrandePolítica / Zona de ConfortoInovação Paralela"Criar novos espaços para não perder a nova geração."

1. A Objeção Espiritual: "Isso é mundanismo/antibíblico"

Geralmente usada por conservadores quando se sugere mudanças na música, liturgia ou estética.

O Medo Real: Eles têm medo de que, ao mudar a forma, a igreja perca a santidade e se torne "igual ao mundo".

O Script de Resposta:

"Irmão [Nome], eu concordo 100% com você: nossa mensagem não pode ser negociada e a santidade é inegociável. Mas precisamos fazer uma distinção que a Bíblia faz entre Princípio e Método.

O apóstolo Paulo disse em 1 Coríntios 9:22: 'Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns'. Paulo não mudou o Evangelho, mas mudou a abordagem para falar com gregos e judeus.

Minha proposta não é mudar a Doutrina (a Água da Vida), mas apenas trocar o Copo (a nossa metodologia), porque o copo antigo não está mais matando a sede desta geração. Se insistirmos que o nosso 'estilo cultural' é sagrado, corremos o risco de adorar a nossa tradição em vez de servir à Missão. Vamos manter a Bíblia aberta, mas a mente aberta para o método?"

2. A Objeção Burocrática: "O Estatuto/Regimento não permite"

Geralmente usada em igrejas médias/grandes para travar agilidade nas decisões.

O Medo Real: Medo da perda de controle democrático ou de que o pastor se torne um "ditador".

O Script de Resposta:

"Entendo perfeitamente e respeito nossa constituição batista. A democracia é preciosa para nós. Mas lembremos que o Sábado foi feito para o homem, e não o homem para o Sábado.

Nossas regras internas existem para organizar a missão, não para impedi-la. Se o nosso processo de decisão atual está nos fazendo chegar atrasados na vida das pessoas lá fora, o processo precisa de ajuste.

Não estou propondo ignorar o Estatuto, mas usar a própria assembleia para votar um modelo de 'Autoridade Delegada'. A assembleia continua soberana, mas ela escolhe, soberanamente, confiar nos líderes que elegeu para as decisões do dia a dia. Isso não é violar a ordem; é otimizar a ordem para a eficácia do Reino."

3. A Objeção Financeira/Prudente: "É muito arriscado/Caro"

Geralmente usada quando se propõe investir em um projeto social ou evangelístico ousado em vez de reformar o prédio.

O Medo Real: Medo da escassez ou de "jogar dinheiro fora" em algo que não traz retorno garantido.

O Script de Resposta:

"Irmãos, a prudência é uma virtude cristã, mas o medo não é. Se olharmos para a história da nossa Convenção, ela foi construída por homens e mulheres que assumiram riscos de fé, não por gestores que apenas guardavam recursos.

O maior risco para uma igreja não é 'gastar e errar', é 'economizar e morrer'. A fossilização acontece quando investimos mais no conforto dos salvos do que no resgate dos perdidos.

Vamos olhar para este investimento não como um gasto, mas como uma semeadura. Se não semearmos ousadia hoje, o que colheremos daqui a 10 anos? Eu prefiro que a gente erre tentando alcançar o bairro, do que acerte mantendo o dinheiro no banco enquanto a igreja envelhece."

Dica de Ouro: A "Técnica do Sanduíche"

Ao usar qualquer um desses scripts, use sempre a estrutura:

  1. Validar (Pão): "Eu entendo sua preocupação e ela é nobre..." (Baixa a defesa).

  2. Confrontar/Propor (Recheio): "Porém, a missão exige..." (Apresenta o argumento).

  3. Unir (Pão): "Vamos juntos orar para que Deus nos dê sabedoria nesse passo." (Reafirma o vínculo).


Oração de Envio e Unidade

"Soberano Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,

Nós Te louvamos pela rica história que nos trouxe até aqui. Somos gratos pelos pioneiros que, com lágrimas e coragem, plantaram esta igreja. Obrigado porque estamos de pé sobre os ombros de gigantes que amaram a Tua Palavra e a obra missionária.

Mas hoje, Senhor, com temor e tremor, nós Te pedimos: não nos deixes viver apenas de memórias.

Perdoa-nos, Pai, se em algum momento amamos mais as nossas estruturas do que as almas pelas quais Teu Filho morreu. Perdoa-nos se a burocracia ocupou o lugar da compaixão, ou se o medo do novo nos fez enterrar os talentos que o Senhor nos confiou.

Nesta hora, nós clamamos por um novo sopro do Teu Espírito sobre este Conselho e sobre esta igreja. Dá-nos, Senhor, a sã doutrina para não nos perdermos, mas dá-nos também o santo fogo para não pararmos.

Que a nossa fidelidade ao Teu Evangelho não nos torne rígidos, mas nos torne urgentes. Que saiamos desta reunião não como fiscais da religião, mas como facilitadores da Missão.

Une o coração do jovem e do ancião. Que as nossas diferenças teológicas sejam menores que a nossa paixão pelos perdidos. Que esta igreja não seja conhecida apenas por sua história passada, mas por ser um farol vivo e pulsante nesta cidade hoje.

Desperta-nos, Senhor. Tira-nos do conforto e leva-nos para a batalha, pois o tempo é breve e a seara é grande.

Em nome de Jesus, o Senhor da Igreja e Salvador do mundo,

Amém."

Por Pr. Ivo Nogueira

















VOCÊ PODE PARTICIPAR DESTE PROJETO

OLÁ, QUERIDO(A)! VOCÊ ESTÁ VISITANDO UM ESPAÇO MUITO BOM PARA VOCÊ CRESCER E AJUDAR MUITOS OUTROS A CRESCEREM NA VISÃO DE MUNDO, VIDA, FÉ, ESPERANÇA E AMOR. ESPAÇO DE EDIFICAÇÃO E SEM JULGAMENTOS. PAZ INTERIOR E HONRA. AQUI VOCÊ SEMPRE É BENVINDO(A). DIVULGUE ESTE MINISTÉRIO ENTRE FAMILIARES, IRMÃOS NA FÉ, PARENTES E AMIGOS. VOCÊ NOS ABENÇOARÁ COOPERANDO COM QUALQUER AJUDA (MATERIAL, PENSAMENTO, SUGESTÃO, TEMAS, PESSOAL OU FINANCEIRA) SE DESEJAR CONTRUIBUIR COM A MANUTENÇÃO DESTA OBRA, ENVIE UM EMAIL PARA nafamiliafeliz@gmail.com OU PELO WHATSAPP: 98996097155 OU AINDA DEDIQUE SUA OFERTA VOLUNTÁRIA PARA: PIX/CNPJ: 22287919000140 MINISTÉRIO FAMÍLIA DE DEUS

FAMILIA DE DEUS

SOBRENATURAL

SOBRENATURAL